quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Abissal

 
'Você  é um peixe de águas profundas: cego e luminoso.
Está nadando em águas turbulentas
Com a raiva do mundo moderno
Mas com a delicada poesia de outra era..'


Afogo-me nas zonas mais profundas da região abissal.
Estreito.
Preferindo a periferia dos oceanos.

Não porque queira ser pérola dentro de concha.
Mas, porque o eu se encontra vazio de uma falta que inaugura a sua existência.

O inconsciente segue abrigando os pedaços e corpos de outros
Reprimindo a saudade do coletivo
Evitando conexões..

Imersão nas eras que eram..
Pra entender o hoje
Dos homens sujeitos às coisas.

O seu único poder será tomar a si mesmo em sua própria essência como objeto?
E seguir..consumindo o outro primeiro?

Somos fragmentos.
Dez anos de som para dez segundos de silêncio

"O todo sem a parte não é todo e a parte sem o todo não é parte ".
Desaparta-me!
Não posso mais viver na ditadura da superfície.
A respiração precisa de mais oxigênio do que há no mundo

É preciso abrir mão de si para encontrar o outro?
Ou, estreitar-se em laços até que se colem os outros que moram dentro de ti?

Dizem que os corais morrem, mas ficam as estruturas.
Eu como peixe cego e luminoso não sei mais dos detritos que construíram em  mim.
Sigo ofegante.

Se os escombros são causados pelos homens
e as ruínas pertencem à natureza do tempo

Derreto.
Lembrando que o homem consome o tempo e o tempo o consome

Tornamos o mundo, os escombros dos homens?

A mim só restaram os olhos de dentro..
E mesmo distante daqui debaixo do meu rochedo, prometo!
Há um abismo de amor pro mundo inteiro.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Dia a dia

Vestiu-se de Macabéa e saiu pra rua.

No peito, 

um destino indeterminado e triunfante 
de uma cartomante qualquer.

Nos olhos, 

os anseios de um nordeste inteiro..

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Depois

A clareza de alma é saber
Que a vida e a relação humana vão muito além de um adeus

Pegar as coisas na portaria e
Apagar os rastros de outra vida

O resto é sol daqui de dentro

O dia em que o amor acabou
O amanhã não teve mais porquê

No transe da dor
Descobri o amor multifacetário

Dividi a nossa história em dois:
A que eu amo. E a que eu não suporto mais.

Amei tanto que me perdoei
Com o que sobrou

Eu me enamorei de você.
E me separei de quem?

Depois do amor,
Eu encarei o vazio da multidão
O sujo das ruas
E até as notícias imundas dos jornais

Amei tudo o que doía
Nos que passam

E tive vergonha
De ser esquecida

De olhar no espelho
E ter sido,
Não ser mais dois

Vi a relação única do amor e da morte
A sorte que só nasce diante da certeza do fim

Perdi minha metade
E tive que encontrar a mim mesma

Senti o terror de construir “nós” sozinha

Revirei a saudade do mundo.
A saudade de mim
Fiz melodramas

Arrastei minha alma no chão até esperançar
Que o mesmo amor que deixa em trapos
Há de ser o mesmo que junta os cacos

Nunca mais vida vazia.
Viva por inteira.
Esta foi a última poesia dividida.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Pró-logo-eu


Vou decapitar minha cabeça no altar de Foucault
Desconstruir o engodo de mercado imposto em mim

Não sou superficial, mas chega de nada.
Quero ter direitos humanos a consumir o meu carbono!

Deixarei o meu cabelo crescer até onde ele for.
Vou dizer pra Michelle que bonito mesmo é
Cabelo crespo cheio de rigor

-Chega de tagarelices!
De falar do tempo , futebol e papo de banheiro!

O que me importa se o encontro é no Posto 9, ou no 8,5?!
Nunca mais vida vazia, viva por inteiro

Que o vazio, seja só o tempo de um insight
Uma intimidade surda
Antes da próxima ficção

Se “ a verdadeira beleza acaba onde principia expressão inteligente”
Nem tanto hedonista, nem tão cínico
O corpo é transmutável
E o cérebro incipiente

Enterro o último retrato de Dorian Gray que vi
E entrego as rugas pro espelho

Estado de Sítio!
Nem o amor sólido imaginário de Bauman poderá me salvar!

Nada de redundância
Preciso ressonar a verdade

Não tenho medo da dor!
Ah..quem me dera todos os meus dias fossem feitos de epifanias!

Vou me livrar do papel de vítima do capitalismo cognitivo
Amargo é não entender
A partir de hoje vou incomodar a razão

Eu juro pelo Deus e pelo Diabo que são a mesma pessoa
Que tentarei abrir mão de ser para começar a viver

segunda-feira, 21 de março de 2011

Filosofias de botequim I: Benção pro amor

Dizem por aí que Deus fez o homem por amor. Antes de destruir tudo, a ideia era que ele cuidasse do mundo. Mas, o coitado andava por aí sozinho e cabisbaixo esquecendo do trabalho, aí Deus achou por bem lhe dar uma companheira.

O final a gente já sabe: os dois encontraram uma maçã, dormiram juntos e acabaram com o paraíso.

Desde então, o amor pede calma, muita calma. Se não der certo da primeira vez, junta os cacos e procura o amanhã.

Porque a verdade é que a vida é muito melhor para quem ama. Se pinta, se perfuma, abre as portas de casa e vai à luta. Que onde come um, cá entre nós, é bem mais gostoso quando comem dois.

No fundo, no fundo, todo mundo é “eu sozinho” rezando para ser “Nós juntinhos”.
Que o amor não nos congele com os seus olhos de medusa.

E fique claro: é preciso abrir mão de si mesmo pra entrar no outro. Desapegar dos erros, dividir os espaços, consertar os defeitos arduamente cultivados. Não é para qualquer um.

Como diz o funk, pra ser feliz no amor tem que ter disposição.

E aos que acham que amar não é pra eles, ou que o amor já passou, isso é história pra boi dormir.Vivem na memória machucados antigos, se privam de canções e poesias. Bebem o amor de ontem e acordam todos os dias com ressaca do amanhã.

Arredias, algumas pessoas vivem assim: de dia implodem o peito, e de noite, no íntimo, imploram para serem merecedoras de amor.

Não sabem que o amor é irrequieto, passional, machista e feminista.
Dá um tapa na cara do homem e da mulher que o encara e pede tudo: o samba mais bonito, o choro mais sofrido. A alma de quem tem pra dar.

Não existe certeza. Achar o amor pode levar todo o tempo do mundo, uma vida inteira de desafetos, bailes de carnaval, encontros às cegas, beijos banais, horas de chat no par perfeito, rugas de tentativas e para alguns at’e os cabelos.

Mas, o que importa? Se quando duas vidas de juntam é capaz de mudar tudo.

Que alma é tão pequena que o seu feijão com arroz não mereça vontade de viver?

Que buraco negro cotidiano não quer ser domingo de sol?

Quando um amor verdadeiro passa é como se só dois pudessem mudar o mundo. São duas partes rumo ao tudo.
Novelas à parte, a verdade é que o amor dá trabalho. É preciso se reinventar, costurar histórias, misturar mal-passados com esperanças de futuro. E quando vem ao ponto, dá casamento.

Aos amantes arredios e aos incorrigíveis, com a benção do Chico, o amor avisa:
Não se atire do terraço, não arranque a minha cabeça da sua cortiça, não beba muita cachaça e não se esqueça de mim.
Porque nem lenda, nem crença, nem promessa.

O divino está em quem tem sede no coração, luz nos olhos e coragem para o amor quantas vezes for preciso. Iluminados sejam todos vocês e abençoados de amor até que a vida os separe.

*Texto lido no casamento de Guilherme Laux e Solange.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Lavra, dio!

Com medo de matar a poesia, tomei uma pílula
Deixa para que me reiventasse

Rezei para que nem todos os dias fossem quadrados
E antes mesmo que o corpo ereto virasse horizontal de cansaço
Sentei e encarei a rotina.

Fez-se o duelo.
Como uma mãe loba disse:
"vá te embora hora vazia.Que aqui nesse peito há sempre poesia".

Que venham as contas do fim do mês
E o tempo que passa e foge a minha lucidez
Que no fundo dos meus olhos, há entranha de mundo
E sempre se chora a saudade do tempo vadio

Aqui na cidade, não se ara a terra
Mata os relógios
Tempo é sinônimo de dinheiro

No imundo dos homens
Já não gosto tanto do que escrevo.

Sonhando acordada, ou trabalhando deitada
Durmo à noite pra viver
Visitar a praia em frente
Distante vizinha que nunca me vê

A pessoa nasce para o que é?
Porque arredia de mim
Me misturei por inteiro

Agora faço matemática com as palavras
E erro a soma
Será + ou - o que me consome?

Bazófia

Desculpa se te chamei de "frenesi ermo"...Sério!

É que às vezes a pupila se adianta

Masca o freio.


E vai ser difícil pra mim

Quando você me olhar com olhos de

"E você sempre tão cética quando eu vou às estrelas"


Você busca a protagonista do seu filme

Mas, eu sou a voz over


Nada de ponto final, só vou virar de costas.

Você sai um pouco do quarto, depois volta? Mesmo?


Meus cachos secos e cansados sabem:

Vou ser eternamente condenada ao reino dos amores perdidos

E vou te amar pra sempre por isso


Você vai virar o déjà-vu que nunca acontece...


Você precisa saber:

Eu como mal, tenho medo do tráfego

E sinto saudade de casa na hora do almoço


Eu falo muito.Muito mesmo.Muita opinião

Agora eu vejo: muito ruído, pouco latim

Me sinto transgênica

Tenho que provar o tempo todo que sou coisa


Durmo demais.Apareço demais

Derramo vinho na roupa


Esbanjo.

Esqueço.

Vontade de existir só em silêncio

Íntima de mim

Eu bebi a gente ontem e acordei com ressaca


Te perdi no buraco negro do cotidiano?

Nosso feijão com arroz se abalou?

Não sou capaz de juntar as roupas íntimas e imundas?


Tenho medo de nunca sair de mim


Vendo o "deadline"do meu ânimo me assustei:

Você ainda é o axioma do meu dia

Então, me dança até o fim do romance.


Vou me dessentir de tudo pra entrar em você

Queria ser mãe de mim e evitar os erros